há um violino ao fundo
que rasga o peito, lento
os óculos esquecidos
deixam nus os olhos aquarelados
na noite quase-fria
cimento
motores bradam seus desesperos
à beira do abatedouro: próximo farol
vermelho
esquinas dobradas
noventa, quarenta e cinco graus
busco, míope, minha incerteza
na próxima esquina
não.
na próxima.
acho.
olha-me.
observa-me.
sorriem, pupilas, sobrancelhas, conjunto.
dentes, os mesmos
tudo igual ao sempre
mas preenchemos o tempo com nossos instintos
e ali estavam os meus, sem rédeas, incontroláveis
não apenas eles, mas os motores, os intelectos, os nervos
à flor, sem flores
sem versos
paredes frias, encaram-se
morrem-se os olhos mútuos
em novelo, em palavras
em não-dizeres
indiretas loucas
pedidos silenciosos
de
mais
todos os álcoois
todas as vidas passadas
todos os encontros formais
todas as histórias
todo esse rio que transborda
agora entre essas línguas
quase famintas, à míngua
pulsares
suspiros
um descobrir impossível
sonho perdido num bolso de calça rasgada
encontro.
estar presente,
finalmente
como nunca
completo neste dentro
ebule o sangue adormecido
carne fria, desacostumada
às revoadas
deste desejo
rouba a energia em cada dobra de rua
encontra-me quando estiver perdido e só
resgata-me deste escuro infinito
tira-me das pétalas secas
da história finda.
dobro os noventa graus do seu nome
inicio, reinicio, faço outra vez
repito, seja um pleonasmo eterno
escuta, suspira, seduz, entrega
insana, urbana
e novamente
neste contar de horas que criamos
não há como esquecer
o futuro.