efeméride na ditadura azul
excessiva, à beira da chuva
escassa aos olhos da terra rachada
flanante, sem pátria ou mãe
faz piadas, assume formas
desdenha da (nossa) abstração
encarna, solidifica no vazio
cortina de cegueira branca
cortada feito lâmina
por um avião
viajante sem passaporte
contempla a vida,
avizinha a morte
tão cinza
acompanhada, amedronta
sozinha, nem afronta
de sempre clássico traje
baixa de vez em quando
ao querer-se miragem
sabe dançar sem música
desapegar-se ao acaso
chorar-se, até acabar
transgride a regência:
chove-se, de tão impessoal
acaba num sopro
ou no horizonte
feito rio qualquer
ou um qualquer de nós
lá se vai
biografia efêmera
lutar com o azul
e as estrelas.