éramos

éramos nós

e um alexander gelado, servido apropriadamente

uma música inaudível à luz turva dos olhos profundos

círculo de noite densa, num maio gélido

garçons encardidos, piano puído, reticências

sopro obsceno do vento, solilóquios do estômago

extremos

éramos nós

licores de pêssego, subsolos, submundos

cigarros esporádicos, episódicas cantorias

um invadir a serra inesperadamente

um esperar contundente, alongado

fulminante em sua demora

éramos nós

apego de egos, entrelaçar de dúvidas

crianças perdidas num palco

nuas, expostas, trêmulas

por um fio

um ir e vir

um despencar saboroso da altura mais ampla

ápice dos desejos de qualquer infância

um rubor retinto de amor

éramos nós

um cinema apagado

carro rasgando túneis de luz e fuga

telefones mudos

vozes ocultas

éramos nós

éramos sonho

era tão 

só.

Sobre Rodolfo Araújo

Jornalista, amante do teatro, um (des)crente (in)constante.
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