concedam-me a permissão, cortinas negras da noite
de vagar livre nas estranhas vielas do mistério
a seguir os passantes em solilóquio
contemplar as colunas infindas de mármore
observar o líquido caldo portuário
sob as réstias dos faróis
persegui-la sem que me perceba
ouvi-la sem que me diga
despi-la sem que apareça
ouvir o acender dos cigarros
os gritos pálidos dos edifícios
encontrar as vozes perdidas das calles
cegas, vadias, celestes
esperar a lâmina do oriente
os perfumes verdes do desvario
o portão nunca aberto
as águas terrosas do seu mar
permanecem, trancadas, as vozes agudas
que bradam
desenham
o descaminho do extremo
de onde, adiante,
mundo mais não há.