Ela estava aqui até agora, não sei o que aconteceu. Usava óculos escuros, amarrava os cabelos com um tecido colorido, sorria alva, de ofuscar. Segurava docemente uma taça de kir, parecia a mais decidida entre todas as mulheres a cruzar meus olhos, tinha realmente uma postura sem frestas, um ar superior, uma altivez nos pensamentos. Não desperdiçava palavras, jogava muito pouco com as frases; com efeito, parecia iludir justamente pela lâmina afiada de sua objetividade. Aparentava dominar o tempo com as mãos, desafiava a precocidade com muita segurança, soava ter vivido das histórias pérfidas às mais ternas.
Ao analisar suas raízes, parecia não ter alguma; nascera de algum lugar? Tivera um passado ou foi cuspida por alguma fagulha esparsa da Criação em um rompante viril? Aparentava elegância ímpar, trafegava por todo o protocolo e etiqueta em placidez monumental. Flanava pelos círculos como se soubesse todos os idiomas. Espantava o desnecessário; editava a existência enquanto a tragava. Fazia pouca fumaça, era precisa nas miradas, escolhia o que viver.
Os passos calculados, pelo que lembro, tinham sempre endereço. Pediu sem analisar o menu, portava-se como frequentadora habitual. O perfume criava espirais coloridas, confundia meu tato com o delicado tecido a ficar para trás. O relógio corria para trás, sua voz misturava-se a traumas, a voos cancelados, a receitas mal-sucedidas, a tremores de pânico. Calafrios.
Ela estava aqui até agora, não sei o que aconteceu.
Bravo.