atrás da janela

atrás da janela, observo. sem ser visto. vigiado. entre um trago e outro. um segundo e mais algum. abaixo da espessura unida das nuvens. sob o cinza, sol ensimesmado. alternados, os blocos: setentões quadrados, neoclássicos emergentes, rubros telhados. sobrados. pratas e pretos sobre rodas. sirenes berram. passantes desviam-se. todo-silêncio. imobilidade salpicada por deslocamentos. pássaros turbinados rasgam o cenário. beijam o chão, destino. irrompem, narizes ao alto! somem. copas arbóreas mancham a poeira de verde. maquiagem. feixes desafiam o teto e atingem a superfície. alguém dá pela falta do carro. o lenço cai de uma mãe em desespero. namorados descobrem-se no desconhecido. há um cortejo que passa. uma formanda que passa. escondidos, (nos) comemos. táxis entregam pessoas. caixas carregam mensagens e valores. uma professora tem as coxas investigadas pelos adolescentes. suspensos. há outros pares de olhos dispersos em meio a reuniões-prisão. rotina. outras janelas se espiam. todas elas. recíprocas, encarceradas, emoldurando em estilos-vários a angústia. caladas.

Sobre Rodolfo Araújo

Jornalista, amante do teatro, um (des)crente (in)constante.
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