dentro

Ofusca-me a junção sol-areia branca-céu meridional. Perfume de vida mais lenta. As rugas dos que aqui residem são sorrisos do tempo, ao contrário das cicatrizes sangrentas da opaca-cidade.  De rubros, apenas os calores que vejo no rosto contorcido. Do lado de dentro da janela, o véu dança no compasso da paisagem: calmo. A fumaça desenha-se por si, foge, reaparece, retorna. Alterno o campo de visão novamente para dentro. Há um cobertor quase inteiro sobre o chão, enquanto a réstia de vinho parece lutar contra o cristal. O silêncio entra com seus tentáculos a estabelecer o exato contraste com a dança. Assume o lençol um contorno calculado; a sabedoria de suas mãos encarrega-se de um deslocamento orbital. Delicia-se, autônoma, à luz da consciência nebulosa do despertar. Pernas soam esguias deste ângulo: apoiam-se, revezadas, prontas para evitar uma impossível queda. Abrem-se em traço sonoramente irônico ao desenhar a largura precisa de um quadril sem estereótipos: pronto, acústico. Especulo qual seria a música a embalar tais movimentos. Trago. Corredeiras perderiam seus rumos, tropas perderiam sentidos e guerras na topografia delicada que conduz aos relevos tão firmes quanto sua voz. Pescoço esgueira-se como se na floresta fosse felino pronto para o combate. Um arco traça o desespero de um sorriso inflado pela vontade de gritar, terminar, saciar. Da poltrona, levanto. 

Sobre Rodolfo Araújo

Jornalista, amante do teatro, um (des)crente (in)constante.
Esse post foi publicado em misturas. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s