maçã

Suas luzes ainda são quentes. É possível gravar nas paredes todas as ideias possíveis. Ainda há mesas à espera de qualquer passante. Existem livros ao dispor: cores, letras e lombadas. Contempla-se sem medo. Caminha-se contra o vento gelado rumo ao metrô. Bebe-se café quente. Ingerem-se os mais diversos carboidratos. Solidões enovelam-se em sorrisos internos, lágrimas tímidas, amores natimortos. Livros escondem rostos aflitos por mais. Cabarés são abafados pela tensão permanente. Taxistas aguardam gorjetas e interesse por suas origens. Transbordam. Aviões desejam colidir diuturnamente. Rasgam a imaginação com turbinas de fogo. Teatros iluminam porões e esquinas. Restaurantes guardam velas, bebidas, menus e desabafos. O futuro busca a anunciação nas emissoras, lojas e masmorras. Vagas disponíveis para macrobióticos, carnívoros e anoréxicos. Almoços vivem o ocaso nas mesas.

Policiais transpiram desconfiança. O céu é arranhado com terrível facilidade. Paga-se o supermercado com moeda corrente: a paranoia. Esbanja-se de maneira sussurrante, elegante e discreta. Crianças brotam de imediato nos parques ao fim do expediente. Vozes difusas, idiomas derretidos no grande pote. Néons explodem de tanto gritar.

Devorada com fome. Grande. Suculenta. De vida.

Sobre Rodolfo Araújo

Jornalista, amante do teatro, um (des)crente (in)constante.
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