Suas luzes ainda são quentes. É possível gravar nas paredes todas as ideias possíveis. Ainda há mesas à espera de qualquer passante. Existem livros ao dispor: cores, letras e lombadas. Contempla-se sem medo. Caminha-se contra o vento gelado rumo ao metrô. Bebe-se café quente. Ingerem-se os mais diversos carboidratos. Solidões enovelam-se em sorrisos internos, lágrimas tímidas, amores natimortos. Livros escondem rostos aflitos por mais. Cabarés são abafados pela tensão permanente. Taxistas aguardam gorjetas e interesse por suas origens. Transbordam. Aviões desejam colidir diuturnamente. Rasgam a imaginação com turbinas de fogo. Teatros iluminam porões e esquinas. Restaurantes guardam velas, bebidas, menus e desabafos. O futuro busca a anunciação nas emissoras, lojas e masmorras. Vagas disponíveis para macrobióticos, carnívoros e anoréxicos. Almoços vivem o ocaso nas mesas.
Policiais transpiram desconfiança. O céu é arranhado com terrível facilidade. Paga-se o supermercado com moeda corrente: a paranoia. Esbanja-se de maneira sussurrante, elegante e discreta. Crianças brotam de imediato nos parques ao fim do expediente. Vozes difusas, idiomas derretidos no grande pote. Néons explodem de tanto gritar.
Devorada com fome. Grande. Suculenta. De vida.