O eco era forte, pressionava o peito. Recebera a notícia há pouco. O metrô desaparecia, barulhento, pelo infinito preto. Néons decoravam o vazio. Poemas decalcados na parede atraíam a atenção. Mais lágrimas. Não sabia como mudar o destino. Suspirava e, ao expirar, nova torrente a entupir artérias, canais de toda sorte. Adeus.
Não havia a quem recorrer. Quis chutar a máquina automática de vender livros. Quebrar aquele vidro com toda a força. Observar o cacos. Equiparar-se. Sem sangue.
Nada fez. Outro trem não chegaria. Resolveu subir na tentativa de aplacar o refluxo e domar os nervos. Procurou músicas novas no celular. O mundo parecia repetir-se ininterruptamente. A escada rolante ainda funcionava. Os últimos degraus eram envoltos por um clarão, um halo que fazia a noite parecer alvorada. Não olhou para trás.
Deu de cara com a avenida de sempre: duas mãos, brancas luzes ofuscantes, vermelhos e amarelos do vem-e-vai. Ônibus vazios, táxis carregando embriagados, skates batucando o asfalto sem dó. Era muita gente, ainda. Só aumentava a dor. Ela era cada vez menor.