lança-te no penhasco, apronta-te!
ao percorrerem-te os dedos rubros do querer
quebra a tua imagem em mil cores espelhadas
ao beijar o vento verticalmente
da boca
aos pés
sabes que, ao revirar os peixes e mares
de um beijo
todos os relógios hão de retroceder
na tua saliva, que ebule,
evaporarão pecados de toda sorte,
reminiscências trêmulas
pela incerteza do pós
e do não
envolta nos tecidos, músicas e palavras,
uma teia se desenha
alcova-armadilha
expele o perfume silencioso
e murmura a voz-deleite: venha.
sobre teu peito, sabemos,
sedimentam-se flores cinzas,
versos arroxeados de um afogar
amador.
atira teu pulso primeiro contra o abismo
entrega-te ao permitir
que o relógio se lance no breu
e liberte tuas curvas
do outrora
canta as notas que te abraçam
abraça a cálida fome
a te devorar
entre vinhos, cigarros
e horas perdidas
desperta para o doce amargor
do pós
olha para o passado
sepulta os dias de antes
escolhe a miopia
para enxergar, de perto,
lábios-estrofes
lábios-barrocos
lábios-sorte
lábios-presente
sem amanhã.