moeda que perdeu a efígie,
disse o louco, na febre
de mais um desvario
polifonia de egos
profanações mútuas
a favor de um (não) eu
sob o véu pornográfico
das sociais convenções,
há convescotes e sussurros
– mundos reais
chovem manchetes
emerge uma profusão
de julgares
dedos em riste!
senões
beber o caudaloso rio
das vastas opiniões:
impossível
sobra a réstia, o fragmento
pobre raio entre
a fresta: ângulo
a verdade,
é verdade,
não há.
Não é que não haja verdade, ela existe. Porém, o que vemos como verdade não necessariamente é o que o outro ver. È como uma frase que li em algum lugar e achei que fazia todo o sentido: “A verdade é como um lustre. Todos na sala podem vê-lo, mas cada qual de um ângulo diferente.”
A cirúrgica sutileza do poema impressiona:
“sobra a réstia, o fragmento
pobre raio entre
a fresta: ângulo”
O poema fez-me lembrar do homônimo “Verdade” (ou, dependendo da edição, “A verdade dividida”), de Drummond.
Muito significativas as imagens que tratam da construção da verdade que se dá, muitas vezes, pela pressão das convenções sociais, sob cujo “véu pornográfico […] há convescotes e sussurros – mundos reais”.
Como disse Drummond, diante das “metades da verdade”, fazem-se escolhas: “E era preciso optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia”.