o início de um conto

o dia mal havia amanhecido quando as paredes da estrada já eram apenas árvores. no contrafluxo, os farois rumavam em ritmo obrigatório: destino cruel dos que trabalhavam no platô acima da serra. há tempos o motor não experimentava uma lufada tão pura de liberdade, o mais puro dos ares. os olhos, quase sem piscar, imaginavam um ponto ainda longínquo, que mais tarde se consubstanciaria em um par de olhos escuros feito os belos ocasos da região. como feixe inflado de rebeldia, afirmava-se na fresta do tempo uma mecha alourada em forma de trilha para a mais pura adição. acelerava cada vez mais profundamente, a degustar com o passar das placas a proximidade febril da quimera. quanto mais avançava, sentia a intensidade elevar-se à beira de um sorriso nervoso e incontido, logo convertido em gargalhada. havia muitos motivos para perder o controle, enquanto o volante mantinha-se na direção correta.

Sobre Rodolfo Araújo

Jornalista, amante do teatro, um (des)crente (in)constante.
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