juntos
cometamos o crime
lento e suculento perjúrio
à luz do dia
façamos noite deste todo
ainda que, no alto, haja sol
dualidade à Magritte
passado-futuro
em fusão
do solo, a emergência
milhões de peixes enovelados
na teia indelével da ânsia
o frio espalhado entre os dedos
num vacilante caminhar
apagou-se o mundo
não havia passantes,
uma voz sequer a ecoar
apenas caminhava,
curvilínea e indelével
nas esquinas curtas
de Paris
os bacantes sorrisos
mordiscavam desejos em silêncio
tão longo foi o tempo
a preparar o fim-começo
brotavam chamas dos negros frios
a enquadrar o rosto desviante
perfume urbano, esculpido
no submundo do indizível
conduz a tua mão quente
pelos labirintos da ternura
eis que, por trás dos prédios
o tremer de uma terra fértil
a todos assusta: na noite-dia,
o clamor da fatal fusão
o desespero do ser-o-outro
a malícia de sentir-se em casa
o prever mil outros futuros
arrancar a pele, os cabelos
na fúria de lábios, unhas
e línguas
o pecado
há como calar a metrópole
sufocar o caos e os caracóis
da cidade tensa
dedilhar, sem partitura,
as reentrâncias em surpresa
esperar-te, onde for
em meio às serras
ser espelho e discórdia
porvir amplo feito o mundo
reter o corpo com fome
de quem a história, toda,
vai devorar.