espera

saudade
abismo doce de ternura
entre
antes
e
depois

tempo suspenso
parado no campo

suspiro que desce
feito gole seco

suores múltiplos
das palmas e sulcos

contrações de
todos os músculos

temer o calendário
que, imóvel, sorri

desgastar os discos
à procura do melhor verso

que explique
o impossível

esticar os dedos
como se fosse possível
recriar
o rosto

recorrer à memória
além do habitual

culpar o café
e a secura dos dias

poder imaginar
as caminhadas que tu fazes

e os desejos-silêncios
do teu dia

rabiscar viagens
num sonho próximo

ser raptado
pelo perfume
às pressas

querer ser-te
no instante melhor que há
para dividir
e somar

brincar com o escuro
para ver se tu apareces
na primeira fileira

degustar o estirão
da espera
feito serra
descida

ecoar os ditos
gemidos
lágrimas
fastios

alagar os espaços
vazios
de tanto amor

dobrar a atenção
em tudo
porque tu és
a onipresença

sorrir para o outro
porque contigo
faria

saber que estás
logo ali
onde o sol espera, paciente,
nascer.

Sobre Rodolfo Araújo

Jornalista, amante do teatro, um (des)crente (in)constante.
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