saudade
abismo doce de ternura
entre
antes
e
depois
tempo suspenso
parado no campo
suspiro que desce
feito gole seco
suores múltiplos
das palmas e sulcos
contrações de
todos os músculos
temer o calendário
que, imóvel, sorri
desgastar os discos
à procura do melhor verso
que explique
o impossível
esticar os dedos
como se fosse possível
recriar
o rosto
recorrer à memória
além do habitual
culpar o café
e a secura dos dias
poder imaginar
as caminhadas que tu fazes
e os desejos-silêncios
do teu dia
rabiscar viagens
num sonho próximo
ser raptado
pelo perfume
às pressas
querer ser-te
no instante melhor que há
para dividir
e somar
brincar com o escuro
para ver se tu apareces
na primeira fileira
degustar o estirão
da espera
feito serra
descida
ecoar os ditos
gemidos
lágrimas
fastios
alagar os espaços
vazios
de tanto amor
dobrar a atenção
em tudo
porque tu és
a onipresença
sorrir para o outro
porque contigo
faria
saber que estás
logo ali
onde o sol espera, paciente,
nascer.