como será o dia
em que, descortinada,
deixará que entrem os feixes
e tatuem com suas quentes listras
o corpo a repousar?
onde estarei
vigilante dos teus relevos
quando a alvorada murmurar?
quantos pecados
hei de acumular
ao ver-te, de novo,
começar?
que torvelinho
que pensamentos
tecerão a febre dos teus sonhos
à beira do despertar?
que lençois e perfumes
legaremos ao mundo
ao acordar?
saberão todos pelos jornais
dos tremores noturnos
em que morremos em gritos abafados
de tanto esperar
haverá sons de trabalho e caos
sinfonias, pregadores, batidas
gargalhadas, brigas, balas
garrafas, à mesa,
vazias
carros esparsos singrarão
sob a janela
sem saber, ao certo,
o porquê do mundo parar
tantas músicas cairão dos céus
em tempestade grafitada indolente
nas tuas paredes
seus contornos elevados, revirados,
explorados, fustigados, escritos,
esculpidos,
reverenciados
suspiram profundos,
quietos,
à espera
do dia seguinte
de ver o que há.