essa abstração estranha, como se fosse capaz
de sintetizar a epiderme desgastada
e as entranhas (sabe-se lá como estão)
revolvidas por notícias chovendo incontinentes
de bocas, telas, linhas, vozes
policaóticas
tem uma forma
que arqueja em obtusidade soturna
arfa em anseios impalpáveis
em busca do frescor dos suspiros
de outrora
olha para um bar e vê sorrisos
mas já é impossível transpor-se
para aqueles corpos
o passado, referência vazia
que esmaece ao cair da areia
lê conselhos de quem diz saber da vida
constata o absoluto fracasso no conforto
do imobilismo, do controle-remoto, da bebida no aparador,
da falta de vento no rosto
da fórmula repetida
batida contra a cabeça
de tanto viver olhando para a parede
desconcentrou-se
acabou mirando a janela
enquanto alguém, lá fora,
perdeu o olhar na mesma direção
mais uma morte anunciada
dessa estranha definição
rachada, de tão sólida.
mais um eu que se vai.