costumava prever tragédias.
um dia se olhou no espelho
e não saiu mais de casa.
visões
o capital
sujo
sujeito
sugado
pelo sistema
a mão que sangra
na ponta da faca
daquele
que tenta
fugir.
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vendo
vazio
em pacotes
de todos os tamanhos
leve três ausências
pague duas
na promoção
uma lacuna de brinde
se chegar cedo
um vácuo para tomar
caso demore
por nada.
cabeça
de prego, agulha, alfinete
de vento
de pau
da empresa, do esquema
do capítulo, matéria, poema
do crime: a inteligência
em parafuso
perdida
quebrada
inchada
exaltada
explodindo
erguida ou fresca
num susto, quando é busto
feita, raspada
sagitários, lado a lado na linha de chegada
é o papo
onde nasce o próximo plano
ou talvez um engano
para me justificar.
aprendendo a escrever
narra, narra, narrador
serra, serra, serrador
serra, serra, serra
a
dor
claustro
de que forma
é possível uma palavra respeitar?
deixando-a livre do grilhão da forma
ou botando numa linha para andar?
seu voo, aberto e sem planos,
corre feito rio curvilíneo
aprisionada nos ditames categóricos
para fins meramente alegóricos
são malabares tão egoicos
ditaduras do falar.
da mulher distante
há um sorriso que escapa
logo, contido;
enquadrado na carapaça
de linhas retas que embalam
o vazio
há uma mulher que escapa
pelo baile dos olhos
na obliquidade das interjeições
e se aquieta, arrefecida,
no vapor dos senões.
nevrálgica
pinça o tendão
repuxa
no entre
pélvico
sorumbático, soturno
num poente
estático
de fluxo
e seiva
na nervura
fértil
mágica
nevrálgica.
cárcere, privado
tapete feito para ocultar
problemas
metacriminalidade
fratura exposta no choque
de foices e colarinhos
gatunos sociais, soltos
ladrões de galinha, em gaiolas
istambul
nas mesquitas, um grito
repetido, rivaliza
com o ruído da multidão
que aflora
das tuas entranhas,
também de fora
sedentos todos
pelo caos
tecido de cimento,
as vias embolam o tráfego
dos afetos e mercadorias
fluxo de excessos:
melancolia
a umidade dos banhos
evapora o cárcere vizinho
de seres empoeirados,
estátuas vivas
mortes ambulantes
terror
és a soma de tantos hiatos,
do Bósforo às fronteiras
que antecipas
no agridoce das tuas águas
revolvidas no choque
de hemisférios
vielas que cheiram
a carne queimada:
delícia e pena.